ESTRATÉGIAS
Lauro Chaves afirma que setor produtivo não pode ser totalmente paralisado
Por Marcelo - Em 27/03/2020 às 12:42 AM
Um estudo realizado pelo JPMorgan Chase Institute mostra que muitos segmentos não estão preparados para resistir a uma paralisação prolongada de suas atividades, conforme determinações de alguns estados e países, visando conter a disseminação do novo coronavírus.
Revela que restaurantes, oficinas, lojas e a construção civil podem sobreviver entre 16 e 20 dias, sem terem acesso a novas receitas. Já os serviços pessoais, indústrias e serviços de saúde, teriam condições de suportar até 30 dias de fechamento. E apenas fabricantes e serviços de tecnologia, além de algumas profissões e real state podem ficar mais de um mês parados.
Segundo o conselheiro Lauro Chaves Neto, do Conselho Federal de Economia (Cofecon), a situação atual com a expansão do Covid-19 no Brasil é dramática e complexa, requerendo medidas urgentes, bastante planejadas, para simultaneamente cuidar da saúde pública e evitar um colapso econômico de consequências desastrosas.
“A necessidade de impedir uma propagação gigantesca do coronavírus, tem feito com que cidades, estados e até países imponham medidas restritivas da mobilidade das pessoas, de fechamento das empresas, temporariamente. E isso, por um curto período é necessário, em benefício da saúde pública”, disse.
Adverte, porém, que é necessário haver um balanceamento na intensidade do isolamento, permitindo a sobrevivência da sociedade, que depende de meios econômicos para morar, comer, vestir, viver.
“Isso faz com que, nesse momento de crise em todo o mundo, os especialistas em economia e saúde pública tenham de debater alternativas que consigam compatibilizar o funcionamento da economia, mesmo que parcial e sujeito a algumas restrições, aos cuidados com a pandemia do coronavírus e da mortalidade que dela possa ocorrer”.
Fluxo de caixa
Ressalta também, que no caso do caixa empresarial o problema é sério, pois a economia em nível de Brasil, Ceará e Fortaleza, é baseada em pequenas e médias empresas, negócios informais, microempreendedores individuais, que têm uma disponibilização de capital de giro muito baixa.
“Muitas vezes as contas dessas empresas são suficientes para honrar uma ou duas semanas de compromissos. Seus estoques são reduzidos, os microempreendedores individuais às vezes nem isso conseguem. E os trabalhadores informais dependem da renda no seu dia a dia. Praticamente levam para casa o que compram de alimentos e itens de subsistência para um ou dois dias seguidos”, lamenta Lauro Chaves.
O economista cearense destaca que essas pessoas não têm condições de sobreviver com seus negócios sem funcionar, por uma período mais longo. Mas existem alternativas como levantar parcialmente o isolamento, trazendo gradativamente para recompor o trabalho as pessoas mais jovens e saudáveis, a fim de que a economia volte a girar.
“Outra alternativa é criar um grande programa federal, com renda mínima de R$ 1 mil por mês, que beneficie todos os vulneráveis, ou seja os cadastrados no Bolsa Família, os desempregados, os MEIs, durante o período crítico da pandemia. Além de bancar, parcialmente, os salários dos trabalhadores das microempresas”.
O conselheiro do Cofecon lembrou ainda que o levantamento do JPMorgan depende das peculiaridades de cada setor, e mudam de lugar para lugar, pois se pegarmos pequenas mercearias, bares, restaurantes, não aguentam mais do que uma ou duas semanas fechados, por não terem capital de giro, estoques.
“Já as grandes empresas têm uma reserva de caixa, um estoque maior, e conseguem acesso ao mercado de crédito de uma maneira muito mais rápida que as pequenas. Precisamos ter uma medida urgente de caráter econômico e social simultaneamente, que possa permanecer no combate ao coronavírus, porém ativar a economia, preservando os maiores grupos de risco, para que não tenhamos um problema de saúde pública”, finalizou Lauro Chaves Neto.