Moda em 2020
Uma retrospectiva fashion sobre o que esteve ‘IN’
Por Gabriela - Em 28/12/2020 às 2:58 PM
No ‘ano da pandemia’, muito mudou. Do pequeno ao grande, do corriqueiro ao pontual. Sair de casa virou uma cruzada: a máscara é sua armadura, o álcool em gel a espada. Num cenário menos que inspirador, a moda teve papel duplo: espelhar a realidade e promover o sonho. Duas missões antagônicas, mas que cumpriu muito bem.
Fossem os desfiles digitais que democratizaram a tão-elitista Fila A, fossem os modelos coloridos da nova Jackie, bolsa da Gucci que não saiu das mãos dos fashionistas, fossem os novos padrões físicos que invadiram – com direito e com atraso – as passarelas internacionais, houve movimento. É, 2020 foi tudo, menos chato.
Em clima de retrospectiva, nós relembramos esses e outros momentos de impacto no segmento fashion. Vista seu tie-dye, faça um bom whipped coffee e se deixe preencher de nostalgia.
Comecemos do começo
Era meio de março quando o mundo parou. Num ‘fecha tudo’ nunca antes visto, o retrogosto de uma mobilização global deixou um sabor de isolamento – irônico, novo, real. A moda, evidentemente, sofreu as consequências.
A troca de rotina pautou o conforto como principal desejo, guardando os sapatos de salto no fundo do armário e entregando o protagonismo a chinelos, pantufas e sneakers. Os moletons dispararam nas pesquisas de e-commerce, sem esquecer fenômeno tie-dye – e todos os videos tutoriais que coloriram as redes sociais–. Entre cores e texturas, o ‘hashtag’ look da quarentena foi funcional, prático, e, por vezes, uma maneira de fugir das alarmantes notícias com um momento de ‘glamour sem esforço’.
Nas conferências via Zoom, a camisa de gola fazia par com calças ou shorts de pijama – outro item que ganhou status elevado durante os meses de isolamento. O que era chic virou dispensável, o que era banal virou chic.
Despojado ou glamuroso, o lounge wear é uma democrática e versátil lembrança dos primeiros meses de confinamento.
O efeito desse cambio em comportamento se nota até hoje. Em junho, com menos de dois meses de isolamento na conta, os termos ‘pijamas’, ‘chinelos’ e ‘pantufas’ registraram, respectivamente, um crescimento de buscas em 800% e 500%. Neste Natal, muitos optaram por seguir a ordem do comodismo e não sair dos ‘pjs’ nem para a ceia.
Em 2021, é de se esperar que esse fio siga sendo puxado. Afinal, conforto é sempre a suma elegância.
O bom e velho
Atire a primeira Saddle quem, num misto de medo e novidade, não deu pelo menos uma conferida pelas numerosas páginas de brechós no Instagram. Sim, quem nunca antes havia conjecturado comprar second hand repensou essa certeza em 2020 – e para isso há razão.
Além da inimaginável alta no dólar – e, com ela, uma progressão estratosférica nos valores de itens importados –, a preocupação social e ecossistêmica também pesou. O retorno de it-acessórios do passado ao campo de visão fashion, – alô Dior Saddle Bag e Fendi Baguette! – foi o prego final para pendurar este quadro. Assim, uma tripla vantagem financeira, ambiental e estética pintou a gravura: o vintage se tornou o o cool de 2020.
Não apenas fazia sentido desapegar de itens parados no armário, como também era benéfico escolher alimentar a economia local pagando menos dinheiro pelo item-desejo. Ao todo, foi um boom que só teve vantagens.
Talvez por isso, séries de época como The Crown e The Queen’s Gambit tenham gerado um burburinho tão grande entre os fashion fanatics. Fazia anos que Lady Di não virava hashtag, quanto mais modismo…
Let’s get phygital
Obrigadas a existir de outra forma, as semanas de moda colocaram o sistema a teste. Como realizar um dos maiores eventos do calendário mundial sem risco, sem toque, sem Covid-19? O globo, sentado na fila A, estava ansioso para ver.
Nasceu assim o formato phygital, um híbrido de desfiles presenciais e apresentações digitais que botou a criatividade a prova. Com recursos limitados, grifes tiveram que ‘rebolar’ para manter a atenção do público sem o farfalhar das fashion weeks fazendo barulho nas redes sociais.
O produto tem o foco mais do que nunca, sem teatro, menos marketing, mais conteúdo. Por muitas casas, a encomenda foi entregue, mesmo diante de adversidades – um salve especial para Dior e sua casa de bonecas, e sem esquecer do fantasmagórico Métiers D’art ‘sans convidados’ da Chanel, ou das criações flutuantes de Olivier Rousting na Balmain do alto do Rio Sena, e tantos outros momentos inesquecíveis.
Foram sonhos que convidaram a entrar, fechar os olhos, abrir a mente. Enxergar esse mundo torto por outras lentes, saturar os sentidos e esfumar as linhas que tentam separar o real da fantasia.
Num cenário pós-pandêmico, é esperado que as labels não voltem a ‘virar a cara’ para o encanto do virtual, preservando com magia a saúde desse casamento entre vida e tela, lá e cá, toque e touch.
Do ateliê ao catwalk, da alta-costura ao prêt-à-porter, processo de produção se tornou mais transparente e próximo ao cliente.
No TikTok do relógio
Pelo bem ou pelo mal, o ano foi do TikTok. O aplicativo chinês de entretenimento chegou de fininho, com algumas danças vitalizadas e alguns #challenges que chamavam atenção.
Contudo, foi apenas após o lockdown mundial que, presos em tédio, indivíduos que antes torciam o nariz para a plataforma começaram a dar uma chance à novidade. O vício se instalou de supetão.
Em poucos meses, o app se tornou um hub megalômano de comunicação. Troca de informação, memes e todo tipo de conteúdo podem ser encontrados por lá – inclusive, muita coisa sobre moda, beleza e tendências.
Com uma comunidade tão grande de usuários engajados, o TikTok é capaz de promover enormes trânsitos de comportamento e, consequentemente, prever e criar tendências. Exemplos? Os estilos cottagecore, e-girl e soft girl são alguns marcos pontuais.
Por um brilhante segundo, muitos quiseram tricotar o cardigan JW Anderson de Harry Styles, e muitos outros ousaram se transformar em modelos da Gucci – pequenas ações que, apesar de terem deslanchado de forma independente, foram subsequentemente aproveitadas pelo marketing das próprias grifes.
Em 2020 no TikTok todo mundo criou, todo mundo aprendeu e todo mundo lucrou.
Após muitos internautas começarem a copiar a peça de tricot usada pelo cantor britânico, a grife de autoria disponibilizou os padrões em seu site oficial, facilitando o processo.