Sabe aqueles grandes clássicos da Literatura? Pois é, no segmento automotivo há também os seus e, sem dúvida, a Mercedes-Benz ocupa uma imensa seção. Inclusive, o modelo que testei faz parte de um capítulo da história da marca e, na prática, seu bestseller, o Classe C. Uma prova? Segundo a fabricante, a família Classe C (sedã, cabriolet, coupé e estate) representa 44% de suas vendas.

Andar de Mercedes é andar sobre a Tradição em quatro rodas. Na garagem, após um “viiixe!” de espanto, não foi à toa que meu pai, em silêncio, devorou o modelo com os olhos. Depois “arrudiou-o” (dar a volta), passou o dedo na estrelinha de três pontas, soltou um palavrão para depois balbuciar “isso sim é um carro!”. “Ele é importado?”. “Não, pai. Ele é fabricado aqui, mas revisado por alemães”. 

Das versões da Classe C, em Fortaleza, peguei a sedã C180 Avantgarde, que custa na Newsedan R$ 178.900, “com motor 1.6 Turbo flex, 156 cv, automático (9 marchas), multimídia áudio(GPS, Bluetooth, USB, CD), 7 airbags – um para o joelho do motorista (que chique, hein?), suspensão adaptativa, alerta de sonolência, secagem automática dos freios, encosto de cabeça projetável, entre outros”, me garantiu Eduardo Weimar, gerente comercial da autorizada cearense!

Sentido “o fenômenos de vendas”

Depois de andar um dia na zona urbana, resolvi dar uma viajada com ele. Destino? Icaraizinho de Amontada – cerca de 2h30 da capital cearense. Mesmo sendo um clássico, há muito tempo deixou de ter cara de “tiãozão”. Suas formas, contornos de faróis, o capô mais alongado, o símbolo da estrela maior na grade frontal, aros descolados, enfim, mexidas que deram um rejuvenescimento. “Eita que o ‘macharal’ não para de olhar”, observou Lidu, que viajava comigo. 

Por dentro, elegante como sempre, impera uma ótima qualidade de matérias: couro, cromo e madeira nobre. Fino, o console central dá gosto olhar e tocar. No espaço, existe um relógio que parece de pulso e que deixa muito digital envergonhado. E por falar em espaço ele tem e de sobra. Três grandalhões cabem confortavelmente. Ah, um detalhe: o câmbio automático não fica na parte central e sim na direção à moda norte-americana. Achei mais prático, confesso. A câmera de ré tem uma ótima angulação dando uma segurança a mais. 

“Ser ou não, eis a questão!”

Já o painel divide-se em analógico e digital.  Há quem o critique dizendo que poderia ser todo ele digital como um de seus inimigos, um outro alemão. Mas vou filosofar: não se mexe muito em um clássico, pois ocorre o erro de desfigurá-lo. É como uma peça de Shakespeare*: cortar demais tira a essência do que o autor quer dizer. Na Mercedes, penso, também tudo que tem ali há um significado!

Comportado, mas nem tanto

Pegando as estradas, as facetas do modelo ficam expostas. Silencioso, o motor gira sem alarde a 190 km/h em imensas retas de pistas duplicadas. “Lidu”, minha esposa, pediu que maneirasse. Caro internauta, não faça isso. Essa aceleração foi por motivo de trabalho, mas com segurança e por pouco tempo, ok? Então voltei para a velocidade permitida e nas curvas literalmente o C 180 cola. Estabilidade 10. As trocas de marchas são rápidas e silenciosas. A direção, que é levíssima, ficava dura em altas rotações. Motivo? Para a nossa proteção. Dirigibilidade 10. Dentro, o velho Frank Sinatra soltava a voz e o acústico do “som interno é excelente, né?”, detectou Lidu. “Tu sabia que a China é o país que vende mais Classe C?”, perguntei. “Não”. “Pois é, com mais de 90 mil vendidas, de janeiro a setembro deste ano”. 

Seu jeito, sua personalidade

Dirigindo-o, avistei o DYNAMIC SELECT. O que é isso? Ele permite que você escolha formas de condução. Ele adapta o motor, consumo, marcha e direção com seu modo escolhido (nas versões AMG, o sistema adapta adicionalmente a suspensão e o som do escapamento). 

No COMFORT é a configuração padrão que visa o máximo de conforto, o ECO maximiza a economia de energia, enquanto o SPORT e o SPORT+ fornecem uma experiência de direção mais ágil. No modo INDIVIDUAL, o motorista pode adaptar cada parte selecionável do veículo de modo independente à sua preferência. O que eu usei mais foi o ECO já que a praia nativa era longe, cerca de 220km de Fortaleza. Para voltar, mais 220km e olha, voltei com um ¼ de tanque. Uma beleza de economia visto que ele é turbo!  

Confortável também os assentos em couro. Quase três horas e nenhuma dor na coluna ou vontade de “se espichar”, como se diz por aqui. Parado, nos dois dias que passei, o modelo despertava curiosidade e sempre alguém parava para dar aquela “espiadinha”. Na volta, de madrugada, percebe-se a iluminação interna: lindíssima. Os comados que ia aprendendo no decorrer do teste já sabia de cor. Você se assusta no começo, mas depois eles tornam-se fáceis e práticos. Ah, uma das tantas características que gostei da C180 foi ao passar sobre lombadas. Sobe e principalmente desce suavemente. Suspensão inteligente é a diferença, pensei.  “Parece uma moça de tão delicado ”, disse Lidu. 

Inimigos

Os concorrentes do Classe C são Ford Fusion, Toyota Corolla, Honda Civic e GM Cruze. Entre os modelos de luxo ele está em destaque junto com o BMW Serie 3 e Audi A4.

Setembro mágico

O Classe C teve 1.331 unidades emplacadas no mês passado. Seu rival direto, Série 3, da BMW, registrou apenas 256, enquanto o A4 teve humildes 82 unidades vendidas. Até o A3 Sedan, menor e mais barato, ficou impotente diante do Mercedes (somou 248 exemplares vendidos). O “Fenômeno” foi um trator.

Pego por dois detalhes

Duas coisas bobas, mas que a Mercedes-Benz deveria repensar no futuro. Quando eu deixei o carro e apertei o alarme, esperei que os vidros subissem e isso não aconteceu. Outra situação é sobre o sensor traseiro, ele não existe. Porém, acredito que a montadora tire isso de letra já que é costume dela ouvir não só as estradas, mas quem dirige uma, Mercedes, claro!

*William Shakespeare foi um dos maiores dramaturgos que o mundo produziu. Inglês, produziu peças como Romeu e Julieta, Otelo, Macbeth, Sonho de uma noite de verão, entre outras