HIDROGÊNIO VERDE É OPÇÃO
AIE alerta para “turbulências” na questão energética e aposta em energias limpas
Por Marcelo - Última Atualização 15 de outubro de 2021
A Agência Internacional de Energia (AIE) considerou nesta quarta-feira (13) que o mundo vai sofrer com o aquecimento global, mas também com “turbulências” no abastecimento energético, se não investir mais rapidamente em energias limpas, renováveis. E esta constatação vem diretamente ao encontro do que o Governo Ceará vem anunciando nos últimos meses, que é a instalação de um Hub de Hidrogênio Verde no Complexo do Pecém.
No relatório anual, publicado duas semanas antes da abertura da Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP26), em novembro, em Glasgow, na Escócia, a agência emitiu “avisos sérios sobre a direção que o mundo está tomando”. Afirmando que surge nova economia no mercado da energia, a agência lamentou que o progresso seja contrariado pela “resistência do status quo e dos combustíveis fósseis”, com o petróleo, gás e carvão representando ainda 80% do consumo final de energia, responsáveis por três quartos das alterações climáticas.
Atualmente, os compromissos climáticos dos governos, se cumpridos, só permitirão atingir 20% das reduções de emissões de gases de efeito estufa, necessárias para manter o aquecimento global sob controle até 2030. “Os investimentos em projetos de energia descarbonizada terão de triplicar nos próximos dez anos para se conseguir a neutralidade de carbono até 2050″, apontou o diretor da AIE, Fatih Birol.
Talvez, por essa constatação, e segundo o mapa da Bloomberg News Energy Finance, o Nordeste do Brasil, incluindo-se obviamente o Ceará, tem as melhores condições mundiais da produção de Hidrogênio Verde, atraindo a atenção de grandes players globais, com investimentos de bilhões de dólares. Tanto que empresas como Enegix Energy, Fortescue, Qair, Linde (White Martins), já assinaram memorandos de entendimento com o Ceará, representando cerca de R$ 100 bilhões em investimentos nos próximos anos.
“Se conseguirmos atingir a neutralidade de carbono até 2050, 2,2 milhões de mortes prematuras por poluição atmosférica poderão ser evitadas até 2030, 40% menos do que atualmente. Em outros cenários, irão aumentar”, adverte o documento. A AIE, que faz parte da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apresentou três cenários para o futuro: o das atuais políticas de redução de emissões efetivamente implementadas pelos governos; o dos compromissos de redução assumidos; e o que permite atingir a neutralidade de carbono em 2050, já tornado público pela AIE em maio.
Cenários
No primeiro cenário – o mais pessimista – a temperatura global aumentará 2,6 graus Celsius em 2100, em comparação com a era pré-industrial; no segundo, 2,1 graus; e apenas no terceiro será limitada a 1,5 grau. O terceiro cenário, atingindo a neutralidade de carbono até 2050, “exigirá grandes esforços, mas oferece benefícios consideráveis, tanto para a saúde quanto para o desenvolvimento econômico”, afirma a AIE.
A agência acredita que é necessário um aumento do investimento de cerca de US$ 4 bilhões por ano até 2030 em projetos e infraestruturas de energia limpa para atingir o objetivo da neutralidade de carbono até 2050. O financiamento adicional necessário para esse objetivo “é menos oneroso do que parece”, acrescentou. Segundo a AIE, 40% das reduções das emissões “pagam-se”, por meio da eficiência energética, da luta contra as fugas de metano ou de parques solares ou eólicos. E, também, do Hidrogênio Verde, cujas negociações com grandes empresas multinacionais seguem em ritmo acelerado por determinação do governador Camilo Santana.
A AIE disse ainda que o atual déficit de investimento afeta não só o clima, mas também os preços e a oferta, garantindo “turbulências” como as que o mundo sofre atualmente, com as tensões sobre os combustíveis fósseis. Nos últimos anos, a depreciação dos preços do petróleo e do gás limitaram o investimento no setor, mas a transição para a energia limpa é demasiado lenta para satisfazer a procura, considerou a agência.
“Há um risco de turbulência crescente nos mercados globais de energia. Não estamos investindo o suficiente para satisfazer necessidades futuras, e essas incertezas estão nos preparando para um período volátil. A forma de responder é clara: investir de forma rápida e maciça em energia limpa para satisfazer as necessidades, tanto a curto quanto a longo prazo”, disse Birol.
Caso contrário, “o risco de volatilidade desestabilizadora tenderá a aumentar”, afirma o relatório, que destaca a importância de uma transição acessível a todos os cidadãos. “Está surgindo uma nova economia energética, com potencial para criar milhões de empregos”, disse Fatih Birol, que apelou aos líderes que participarão da COP26 para “fazer a sua parte, transformando a década de 2020 na de implantação maciça da energia descarbonizada”. (Com Agência Brasil)