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Profissionalização da gestão é o caminho para perpetuar empresas familiares

Por Redação - Em 26/03/2023 às 12:21 AM

Consultor Sênior E Sócio Da Gomes De Matos Consultores Associados, Guilherme Pequeno

Segundo o sócio da Gomes de Matos, Guilherme Pequeno, as empresas familiares representam até 70% do PIB de um país

Mais de 3,8 milhões de empresas foram criadas no Brasil apenas em 2022, sendo 110.660 apenas no Ceará, conforme o estudo Mapa de Empresas, elaborado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), em parceria com o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro). Os números mostram a disposição dos empreendedores para iniciarem novos negócios, mas é preciso conhecimento e disposição para não caírem em outra estatística: a de 45% dos negócios que morrem com até dois anos de existência. Mesmo para empresas mais longevas, iniciadas por famílias que pretendem passar o negócio adiante de geração em geração, a profissionalização da gestão é necessária para perpetuar os negócios.

“A morte de uma empresa sempre é reflexo de estratégia, gestão e operações. Então, seja uma empresa familiar ou não, se a estratégia, a gestão e as operações do negócio não estiverem equilibradas e não tiverem um alinhamento com foco no cliente, existe uma tendência delas morrerem, principalmente agora, com a velocidade das informações, o crescimento das startups, a mudança no perfil do consumidor. Nas empresas familiares, existe um estudo do John Davis, maior especialista do mundo em gestão de empresas familiares, que, de cada 100 empresas, apenas 5 delas chegam na quarta geração do controle da família. Isso não quer dizer que elas quebraram, elas podem ter sido vendidas. O risco de uma empresa desaparecer, quando ela é familiar, se dá exatamente entre a segunda e a terceira geração, onde o fundador perde força, a segunda geração começa a diversificar sua atuação e a terceira geração, muitas vezes, não tem um alinhamento para seguir o negócio. Mas isso é uma probabilidade. Por isso que, na maioria delas, entre a segunda e a terceira geração, existe um processo mais forte de profissionalização para evitar os conflitos familiares. Mas, sem dúvida, um dos maiores motivos de desaparecimento de uma empresa familiar, além de estratégia, gestão e operações, são os conflitos familiares”, avalia o consultor sênior e sócio da Gomes de Matos Consultores Associados, Guilherme Pequeno.

Assim, separar os aspectos pessoais dos empresariais é uma das principais estratégias para contribuir com a perpetuidade das empresas familiares, afirma o consultor. Ele acrescenta que outro ponto importante é preparar os acionistas e os herdeiros com relação ao futuro dos negócios. No caso dos herdeiros, não necessariamente para serem gestores, mas para serem acionistas e para que tomem a decisão, caso seja necessário, de profissionalizar a gestão. Também é importante buscar o crescimento de forma orgânica e estruturada, aproveitando as oportunidades do mercado.

Conforme Guilherme Pequeno, no cenário atual de globalização e competitividade, para não morrerem, as empresas precisam ter uma estratégia muito clara focada no cliente, aumentar a produtividade dos seus processos, inserir a tecnologia dentro do seu sistema de gestão e se adaptar a esse novo mercado onde a velocidade de tomada de decisões é muito maior. “E, principalmente, elas precisam entender a separação entre a gestão de uma família e a gestão de uma empresa. Por isso, as questões econômicas e financeiras, como a clareza de remuneração, pro labore, dividendos, reinvestimento de lucros, é tão importante para que a empresa possa se manter bem gerida, para evitar que esses processos acelerem a deterioração da empresa”, afirma.

Ele lembra que as empresas brasileiras e mundiais, de um modo geral, estão passando por vários desafios, como os desafios do crédito, do crescimento, da lucratividade e da fidelidade do cliente. No caso das empresas familiares, quando ela não tem uma gestão profissionalizada, outros desafios se somam aos entraves comuns a todos os negócios:  o desafio de atrair pessoas boas e mantê-las, pois, muitas vezes, um executivo tem receio de fazer carreira, acreditando que o lugar esteja reservado para alguém da família; o desafio de crédito, pois empresas familiares que não têm um modelo de governança forte terminam pagando mais caro pelas operações financeiras; e o desafio de manter um crescimento estruturado de médio e longo prazo quando a família não tem uma união do que deve ser feito.

Cenário de prosperidade

Apesar dos desafios maiores para as empresas familiares, o sócio da Gomes de Matos Consultores Associados ressalta que o cenário das empresas familiares no Brasil, no Ceará e no mundo é um de muita prosperidade. “Estudos estimam que em torno de 90% das empresas do mundo são familiares, isso porque mesmo algumas empresas que já tenham sido vendidas ou que estejam listadas em Bolsas, ainda são consideradas empresas familiares. A Hapvida, por exemplo, está listada em Bolsa, mas é uma empresa familiar, pois a família tem mais de 50%. Estimativas também dizem que as empresas familiares representam 70% do Produto Interno Bruto (PIB) de um país”, diz.

O consultor reforça que as empresas familiares possuem características que as colocam em vantagem competitiva. “Uma empresa familiar tem muito mais foco no longo prazo, enquanto as empresas 100% profissionais ficam preocupadas em gerar lucro no primeiro ano. A empresa familiar trabalha muito mais fortemente os valores junto à comunidade, o que gera um sentimento de pertencimento muito forte. Nas crises, termina crescendo e saindo mais fortemente da crise do que as empresas profissionais, pois a família tem a empresa como um legado, um processo importante para as empresas. Normalmente, têm uma paixão muito maior. Então, os profissionais que trabalham nas empresas familiares terminam tendo um engajamento e um comprometimento muito maior com o negócio, pois percebem o interesse claro da família em perpetuar aquela empresa”, comenta.

IN Connection

O consultor sênior e sócio da Gomes de Matos Consultores Associados, Guilherme Pequeno,  foi o convidado desta semana do programa In Connection, com Pompeu Vasconcelos. O programa vai ao ar aos sábados, a partir das 11h30, na Band, e também está disponível no YouTube.

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