SEGUNDO MANDATO
Trump é eleito presidente dos EUA; veja o que esperar da política econômica
Por Redação - Em 06/11/2024 às 11:02 AM
Eleito para um segundo mandato à frente dos Estados Unidos, Donald Trump já apresenta uma agenda econômica ambiciosa e cheia de promessas que podem gerar impactos significativos tanto no mercado doméstico quanto no cenário global. Entre suas propostas, destacam-se a redução de regulamentações, cortes de impostos, a implementação de novas tarifas de importação e o fortalecimento da produção de combustíveis fósseis. No entanto, essas iniciativas têm gerado ceticismo entre economistas, que apontam riscos para a estabilidade fiscal e financeira, tanto nos Estados Unidos quanto no resto do mundo.
Trump promete adotar medidas para impulsionar o crescimento econômico, mas suas políticas fiscais têm levantado preocupações quanto ao aumento do déficit público. Economistas como Erik Nielsen, do UniCredit, alertam que o impacto das propostas de Trump pode expandir a dívida pública dos EUA de forma alarmante, com estimativas que indicam um aumento de até US$ 7,75 trilhões até 2035, o que poderia desestabilizar o mercado de títulos americanos. O Comitê para um Orçamento Federal Responsável também alerta para as consequências fiscais de um governo com déficits crescentes.
A combinação de desregulamentação e o aumento de tarifas pode, além disso, valorizar o dólar, o que geraria pressão adicional sobre as economias emergentes, tornando mais difícil o crescimento global. O Fundo Monetário Internacional (FMI) já projeta um enfraquecimento do comércio global, e as novas barreiras comerciais propostas por Trump poderiam agravar essa tendência.
Inflação
Uma das promessas centrais do presidente é combater a inflação, considerada por ele uma “crise devastadora”. Para isso, Trump propõe uma ordem executiva que exigirá que todas as agências governamentais adotem medidas para controlar os preços ao consumidor, incluindo a remoção de regulamentações que ele considera prejudiciais ao mercado de trabalho. No entanto, a falta de clareza sobre quais normas seriam afetadas tem gerado dúvidas sobre a efetividade da proposta.
Especialistas questionam a capacidade do governo de controlar a inflação de forma eficaz, uma vez que o Federal Reserve (Fed) é a instituição responsável por definir a política monetária e controlar as taxas de juros. Além disso, as tarifas sobre importações, que Trump pretende aumentar, poderiam, paradoxalmente, contribuir para o aumento da inflação nos EUA, ao elevar os custos dos produtos importados para os consumidores americanos.
Energia
Outro ponto de destaque na agenda econômica de Trump é a promessa de reduzir pela metade os preços de energia e eletricidade em 18 meses, por meio do incentivo à produção doméstica de combustíveis fósseis. O presidente criticou duramente fontes de energia renováveis, como a energia eólica, e tem se comprometido a expandir o uso de petróleo e gás natural. Além disso, propôs eliminar o limite para exportação de gás natural, o que poderia transformar os EUA em um dos principais fornecedores globais de energia, mas também gerar um impacto negativo no setor de energias renováveis e aumentar a pegada ambiental do país.
Impostos
Trump também prometeu cortes adicionais de impostos, tanto para empresas quanto para famílias de classe média. Seguindo a lógica de seu pacote de redução de impostos aprovado durante seu primeiro mandato, ele pretende tornar os cortes permanentes, buscando estimular o crescimento econômico. Uma das propostas polêmicas inclui a eliminação de impostos sobre gorjetas, o que beneficiaria trabalhadores de setores como serviços e hospitalidade.
No entanto, sua política fiscal enfrenta um obstáculo importante: as propostas precisam da aprovação do Congresso, onde o Partido Republicano tem maior força e pode facilitar a implementação. Outro pilar da agenda de Trump é a imposição de tarifas mais altas sobre produtos importados, com uma tarifa universal de 10% e uma taxa de até 60% para produtos chineses, com o objetivo de reduzir a dependência do país em relação a fornecedores estrangeiros.
Impactos globais
A política comercial de Trump está claramente voltada para um confronto mais intenso com a China, país com o qual o presidente promete retaliar tarifas e impor restrições adicionais a empresas chinesas. A tensão comercial entre as duas maiores economias do mundo pode afetar não apenas o comércio bilateral, mas também gerar efeitos em cadeia no mercado global. Países europeus podem ver um aumento nas importações chinesas, enquanto mercados emergentes, que dependem do financiamento em dólares, podem enfrentar custos mais altos para empréstimos internacionais.
América Latina
No cenário internacional, Trump também sinalizou um menor envolvimento dos Estados Unidos com a OTAN, exigindo maior contribuição dos aliados europeus para a segurança do continente. Esse afastamento pode gerar pressão adicional sobre as finanças públicas da Europa, que já enfrenta altos níveis de endividamento.
Na América Latina, o México está entre os países mais afetados pelas políticas de Trump, tanto pelas novas tarifas de importação quanto pela implementação de medidas de imigração mais rigorosas. As propostas de Trump podem exacerbar desafios econômicos e sociais no país, especialmente em um contexto de crescente dependência das exportações para os EUA.
A agenda econômica de Donald Trump para seu segundo mandato promete alterar profundamente o cenário econômico dos EUA e gerar repercussões significativas para a economia global. Embora ele acredite que suas políticas trarão crescimento e estabilidade, muitos economistas e analistas veem essas propostas com cautela, apontando riscos para a saúde fiscal dos Estados Unidos e a estabilidade financeira mundial. O novo mandato de Trump será, sem dúvida, um teste para as instituições americanas, que terão de lidar com uma economia em transformação e com tensões crescentes no comércio internacional. (Com Infomoney, Reuters e CNN)