TURISMO GASTRONÔMICO
Queijo minas artesanal se torna patrimônio imaterial da humanidade
Por Redação - Em 24/12/2024 às 12:01 AM
Vem de Minas Gerais mais uma vitória brasileira. No início de dezembro de 2024, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), elegeu o modo de fazer o queijo minas artesanal como patrimônio imaterial da humanidade.
Mais do que uma iguaria que vai bem com vinhos, café e elaborações gastronômicas, das mais simples às sofisticadas, o queijo feito artesanalmente também mostra a força do agronegócio aliado à cultura mineira, a qual manteve viva uma tradição que remonta ao Brasil Colônia. São mais de 300 anos de saberes ancestrais acumulados pelas comunidades locais.
“Comemoramos a confirmação da Unesco porque o queijo artesanal de Minas é o único alimento do Brasil a merecer esse reconhecimento”, observa o secretário de Cultura e Turismo de Minas Gerais, Leônidas Oliveira.
Parte dessa conquista se deve a produtores de médio e grande portes que investiram na forma de produzir um queijo diferenciado, com valorização do ‘terroir’. Atualmente, as dez regiões responsáveis pela produção do queijo minas artesanal (QMA) são Serro, Araxá, Triângulo Mineiro, Cerrado, Serra do Salitre, Canastra, Diamantina, Entre Serras, Serra das Vertentes e Serra da Ibitipoca.
Mas antes de tornar-se uma potência, houve uma época em que o queijo artesanal, por questões sanitárias, só podia ser comercializado no próprio Estado. Foram necessários anos de pesquisas e trabalho, com destaque para as ações desenvolvidas pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Apenas em 2002 foi aprovada a lei estadual nº 14.185, que determinou etapas de fabricação, ingredientes e selos de certificações que garantem a qualidade do alimento, abrindo caminho para a comercialização em escala.
Atualmente, Minas Gerais conta com cerca de nove mil produtores de QMA, gerando 50 mil empregos diretos e indiretos. A produção anual atinge cerca de 40 mil toneladas, com uma renda gerada que ultrapassa R$ 2 bilhões por ano.
Se na agroeconomia os números falam por si, a inclusão na seleta lista da Unesco também é uma oportunidade para impulsionar o turismo sustentável.
O Portal In, a convite da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas, percorreu as microrregiões do Cerrado, Serra do Salitre e Araxá, e acompanhou de perto todas as etapas de produção do queijo artesanal em regiões que já se preparam para estruturar rotas turísticas ancoradas nas aventuras rurais, na história, na gastronomia e no jeitinho mineiro de acolher bem a quem chega.
Novas oportunidades
Visitar a fazenda do empresário Eudes Braga, em Carmo do Paranaíba, é embarcar numa viagem rica em sabores e descobertas. É possível ver como o rebanho ganha tratamento especial para assegurar a qualidade do leite. A empresa também investe em técnicas genéticas para o melhoramento do gado.
Para chegar ao produto final são usados apenas quatro ingredientes: leite cru, coalho, sal e pingo, sendo este último a parte concentrada do soro que se desprende da massa coalhada.
Na Fazenda Taquaral, localizada em Sacramento, no Triângulo Mineiro, a consultora técnica de queijos, Ana Helena Machado, explica que o pingo é um fermento lácteo natural que confere ao queijo características específicas que estão condicionadas ao clima, à vegetação e ao solo de cada lugar. Esses elementos são responsáveis também pelo padrão de consistência, cor e sabor do queijo.
Localizada na Serra do Salitre, a queijaria Reis Moreira segue a receita de produção familiar que atravessa cinco gerações. O gado, solto no pasto, produz o leite com o qual são feitos os queijos artesanais em diversas variedades de maturação (cura).
Toda a produção tem mercado garantido e o cenário para expansão é promissor. “Mas quando a gente começou era difícil. Foi preciso uma luta grande para conseguir as licenças”, conta o proprietário da queijaria, Vanderlino Moreira. Aos 71 anos, ele foi um dos pioneiros na batalha pela legalização do QMA.
Sabores de Minas
Não é só o queijo minas artesanal que vem ganhando espaço no mercado nacional e internacional. Cafés e vinhos fazem parte dos produtos de excelência que brotam a partir das terras férteis das Gerais.
Bom exemplo para ver, provar e se encantar é o café da Reserva Heitor. Em 141 hectares, o cafezal se derrama pelo horizonte verde da fazenda – na cidade de Patos de Minas – que prima por técnicas de plantio e manejo sustentáveis. Em fase experimental e pronta para ser incluída na rota turística da região, a visita guiada na reserva, com direito à degustação de cafés especiais, acompanhados de quitutes feitos com queijos e frutos da região, tem tudo para se consolidar entre as atrações do Cerrado.
Isso porque embora seja uma área de produção cafeeira, todo o entorno tem cenários altamente instagramáveis graças à reconstituição do ecossistema, hoje coberto por plantas típicas e pontuado por belas nascentes.
Os passeios pelas cidades mineiras também rendem um bom brinde com os vinhos finos produzidos na região. Quem aposta na excelência das uvas mineiras é a Casa Bruxel, cujo catálogo de produtos inclui cafés premiados e com certificações internacionais, além de milho, soja, feijão, sorgo, arroz, trigo, algodão e carne suína. Vinho é o mais novo segmento explorado pela DB. Dos tintos aos rosés, vale celebrar.
*A jornalista Marlyanna Lima viajou a convite da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais