A Apple, embora tenha negado qualquer irregularidade, optou por resolver o caso por meio deste acordo financeiro, em parte para evitar a continuação do processo judicial

A Apple concordou em pagar US$ 95 milhões para resolver uma ação coletiva que acusava a empresa de violar a privacidade de seus usuários por meio da assistente virtual Siri. O acordo, que foi formalizado em um tribunal federal de Oakland, Califórnia, nessa semana, ainda depende da aprovação do juiz distrital dos EUA, Jeffrey White, para ser oficialmente ratificado.

A ação foi movida por proprietários de dispositivos móveis da Apple, que alegaram que a Siri, assistente de voz ativada por comando, gravava suas conversas privadas sem o consentimento dos usuários. Segundo os demandantes, as gravações ocorriam quando a Siri era ativada acidentalmente, e essas conversas eram compartilhadas com terceiros, como anunciantes, para fins comerciais.

Entre os exemplos citados no processo, alguns usuários relataram situações em que, após falarem sobre produtos como tênis Air Jordan e restaurantes Olive Garden, começaram a ser bombardeados com anúncios relacionados a esses itens. Em um caso ainda mais específico, um usuário mencionou a necessidade de um tratamento cirúrgico em uma conversa com seu médico e, pouco tempo depois, começou a ver anúncios sobre o procedimento.

A Apple, embora tenha negado qualquer irregularidade, optou por resolver o caso por meio deste acordo financeiro, em parte para evitar a continuação do processo judicial. A proposta de resolução estipula que os usuários afetados podem receber até US$ 20 por dispositivo habilitado para Siri, como iPhones, iPads e Apple Watches. A estimativa é que dezenas de milhões de usuários sejam beneficiados, caso o acordo seja aprovado.

Os advogados que representam os demandantes, por sua vez, buscarão uma compensação de até US$ 28,5 milhões em honorários, além de US$ 1,1 milhão para cobrir despesas legais. Esse valor, no entanto, é consideravelmente menor do que o lucro anual da Apple, que ultrapassou os US$ 93 bilhões no último ano fiscal. O pagamento de US$ 95 milhões, portanto, representa menos de nove horas de lucro para a gigante de Cupertino.

Este caso ocorre em um momento de crescente atenção sobre a privacidade no uso de tecnologias de assistentes de voz. A Apple tem se comprometido, em suas comunicações, a proteger a privacidade de seus usuários, mas o incidente com a Siri expôs vulnerabilidades que geraram preocupações sobre a coleta e uso de dados pessoais sem o devido consentimento.

Além do acordo envolvendo a Apple, uma situação semelhante está sendo discutida no tribunal de San Jose, Califórnia, envolvendo o Google e seu assistente de voz. Interessante notar que os mesmos advogados que representam os demandantes no caso contra a Apple também estão à frente do processo movido contra o Google, o que pode indicar uma tendência crescente de litígios envolvendo privacidade e assistentes de voz.