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Presidentes da CNI e FIEC falam de H²V, competitividade e a reforma tributária

Por Marcelo - Em 26/08/2024 às 9:36 PM

Os presidentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, e da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), que também é vice-presidente Executivo da CNI, Ricardo Cavalcante, participaram de uma coletiva de imprensa na noite desta segunda-feira (26), na Casa da Indústria, em Fortaleza. Entre os temas abordados transição energética, Hidrogênio Verde (H²V), competitividade da indústria nacional e os impactos da reforma tributária no setor produtivo brasileiro.

Alban ressaltou que o processo de transição energética oferece muitas oportunidades para o Brasil, que precisam ser aproveitadas. E que a indústria não vai perdê-las, especialmente pelas capacidades competitivas que o País possui. “A gente precisa ter a capacidade de transformá-las em competitividade. E duas delas devem ser muito bem aproveitadas que é a posição do Norte e Nordeste do Brasil, que além dos ventos e do sol, e possibilidades offshore, estão mais perto do Norte global. Com isso poderemos produzir H²V e amônia para os demais países. Outros estados podem abastecer o mercado externo e o Ceará com o seu potencial e a sua Zona de Processamento de Exportação tem condições muito melhores, a utilização da água de reuso, para transformar o Estado num grande polo exportador, agregando valor a essa vantagem competitiva em alguns produtos manufaturados”, explica.

Ricardo Alban e Ricardo Cavalcante falaram sobre a importância do Hidrogênio Verde para o desenvolvimento social e econômico do Brasil                                                          Fotos: Douglas Filho

Ele lembrou que a parceria existente entre os portos do Pecém e de Roterdã, deve promover uma alavancagem desta competitividade de forma mais acentuada. “Estamos falando em mais de 20 projetos, estimados em cerca de R$ 190 bilhões em investimentos, que o próprio Ricardo Cavalcante já disse que é mais que isso. Então, o que temos de fazer com a visão empresarial, com o foco de pensar a indústria de forma mais competitiva, temos de aproveitar este momento e termos a competência de interlocutarmos bastante com o Governo e fazermos isso de forma mais célere. O Brasil tem muitos hiatos – econômico, industrial e social -, e a gente só vai garantir um desenvolvimento social com crescimento econômico. O maior exemplo é a China, que focou todo o seu desenvolvimento na indústria, e hoje é um grande player mundial de competitividade, difícil de se vencer, focada na indústria”, afirma.

E destacou que a indústria é a alavancadora do desenvolvimento econômico e das conquistas sociais. Tanto que a China possui, hoje, uma população de classe média maior que a população americana e isso permite um desenvolvimento e um encadeamento produtivo, permitindo que a sociedade saia ganhando como um todo. Falou, também que alguns setores industriais tem a maior parte da colaboração para a descarbonização, em termos relativos. Porque isso é uma grande vantagem competitiva e eles realizam investimentos constantes em pesquisa, inovação e desenvolvimento.

“Na nossa visão, a indústria é uma grande colaboradora de um processo de melhoria do ambiente de emissões de carbono, mas é uma estrada longa e nós a estaremos percorrendo, porque é uma vantagem competitiva que o Brasil tem e nós não podemos perder. Precisamos ter alguns parâmetros para a transição energética, pois temos vários ministérios que atuam nesse segmento. Temos de ter alguns nortes, para que as coisas convirjam. Mas ainda temos de dominar a produção de Hidrogênio, desde as coisas mais simples como as membranas que fazem a osmose reversa. A gente se preocupa que não haja um engessamento, principalmente de algo que o Brasil precisa, que é a pesquisa e o desenvolvimento. Precisamos reter nossos talentos aqui, para que possamos trabalhar e o Brasil evolua muito em P&D nas áreas de transição energética, inteligência artificial, saúde. E o nosso País precisa aproveitar as suas vantagens competitivas para criar toda essa ambiência de desenvolvimento tecnológico, como dominamos o pré-sal”, ressalta Ricardo Alban.

A FIEC

Ricardo Cavalcante ressalta que é preciso reter os valores intelectuais

O posicionamento da FIEC foi muito semelhante, especialmente na retenção dos valores intelectuais, pois hoje 40% dos alunos aprovados o ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) são daqui, se formam e ficam por lá. Esse ano temos vestibular do ITA, as aulas aqui iniciam ano que vem e o Ceará não pode perder a chance de reter esses valores. “Para trabalhar junto com a indústria, com a universidade, para poder transformar ideias, necessidades de qualquer setor, em projetos. O Sistema FIEC está junto, vamos ter uma unidade dentro do ITA aqui no Ceará, exatamente para fazermos esse desenvolvimento. Na parte da transformação energética é um processo longo. Venho dizendo que em 2050, segundo um levantamento da Mackenzie, cerca de 24% do combustível do planeta será de Hidrogênio Verde. Os outros continuam, até porque é assim em toda a história. Mas a diferença é que a indústria está sendo a primeira a enfrentar o desafio da descarbonização”, assevera Cavalcante.

Ele afirma que o setor produtivo tem de vender seus produtos, então, a indústria que estiver utilizando energia verde terá uma vantagem frente às demais, porque as pessoas vão querer comprar o que esteja de acordo com o seu pensamento. “Isso é o que a gente está trabalhando muito forte aqui no Ceará, não só na transformação energética, mas em todo o nosso setor, pois temos hoje 14.500 indústrias no Estado, com mais de 312 mil empregos e em alguns segmentos está faltando mão de obra. O Sesi e o Senai fazem esta qualificação, então a gente está sempre observando o que está acontecendo, entendendo as mudanças que estão ocorrendo em todo o mundo. A chance que o Brasil tem de ser um país verde, já é muito grande. Temos 83% da nossa matriz energética verde, contra 24% do planeta. Então a gente está muito na frente. O que precisa ser feito são processos e projetos que precisam ser destravados pelo Legislativo e pelo Executivo. Graças a Deus na área do H²V já foi aprovado, na área das energias offshore ainda falta ser aprovado e em outros setores estamos discutindo. Mas nossa preocupação maior é que tanto a FIEC quanto a CNI trabalham diuturnamente para enfrentar esses problemas e fazer a indústria caminhar mais rápido”, complementa Ricardo Cavalcante.

Reforma tributária

Ricardo Alban disse que a maior preocupação é o percentual do IVA

Para finalizar, o presidente da CNI falou sobre os impactos da reforma tributária gera muitos questionamentos, mas vem sendo discutida há mais de 20 anos e, agora, chegou-se a uma. Mas ainda tem toda uma regulamentação a ser feita, algumas agregações que devem ser discutidas após as eleições. “Temos um movimento de que essas agregações podem impactar o IVA (Imposto sobre Valor Agregado), que é a nossa preocupação. A CNI, desde o início, não procurou advogar em nenhum setor especificamente, porque a maior preocupação nossa era preservar o menor IVA possível. Estamos vendo algumas declarações de o IVA chegar a 27,97%, que acho um preciosismo demais, mas o Senado deverá revisitar algumas coisas, não sei se o suficiente para reduzir essa expectativa de IVA. Ao longo desse processo vamos conviver com dois regimes, que certamente vão gerar muitas outras angústias, até porque representamos 34% da arrecadação tributária do País. Uma responsabilidade grande e um ônus enorme, pois temos um sócio que é a arrecadação e ele quer receber, tenha ou não resultado. O certo é que não dá mais para se pensar em ajustar as contas públicas pela arrecadação. Isso não é mais possível”, completa Ricardo Alban.

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