INOVAÇÃO, TECNOLOGIA E PRODUTIVIDADE
Setor químico cearense cresce três vezes o do País, mas sente pressão inflacionária
Por Marcelo - Em 30/10/2021 às 8:29 AM
O setor químico cearense registrou um crescimento de 30% nas vendas – no período de julho de 2020 a julho deste ano – apesar de estar sentido a pressão inflacionária gerada por vários fatores como a pandemia, a alta do dólar e do preço dos combustíveis. Esse resultado é excelente, tendo em vista que foi três vezes superior ao desempenho do País, cuja expansão média registrada em igual período foi de 10%. De acordo com o presidente do Sindquímica-CE, Paulo Gurgel, o setor é muito ativo no Estado, gera 13.113 empregos e, nos últimos meses, houve poucos desligamentos.
“Nosso setor ocupa a sexta colocação na composição do PIB do Ceará e, nos últimos meses o setor de cosméticos aumentou sua empregabilidade em 8%, enquanto o de saneantes registrou expansão de 11,4%, desempenho puxado pela mudança de comportamento do consumidor, que com a pandemia, ficou mais seletivo, passou a higienizar mais as mãos, aumentou o número de banhos. As pessoas ficaram em casa e sentiram a necessidade de limpezas mais constantes e como a pandemia durou mais que esperavam, elas viram que precisavam se cuidar usando álcool gel, sabonete antisséptico, desinfetante, shampoo, lavar as roupas com mais frequência. E essa mudança de perfil ampliou a demanda nas fábricas, sendo que muitas delas tiveram de contratar mais e até criar um terceiro turno. Somente no nosso grupo, Alyne Cosméticos, o aumento das vendas de álcool gel foi mais de 2.000%”, explicou.
Frete internacional
Entre os fatores que vêm pressionando a indústria química cearense está o preço dos insumos importados para a produção local. Para exemplificar, Gurgel citou o caso do polietileno (polímetro plástico usado em embalagens), que dobrou de preço. Ele contou que uma embalagem que custava R$ 6,00 e, hoje, está custando R$ 12,00. O frete internacional por contêineres também aumentou muito de preço. Considerando o momento anterior à pandemia, o aumento foi de cerca de 500%.
“O frete internacional, que antes da pandemia se pagava US$ 2 mil por contêiner, hoje está em US$ 12 mil. Foram 500% de aumento no período. E já escutei falar que já teve cotações de até US$ 15 mil, o que é muito elevado. A gente trazia insumos da China, mas está ficando muito complicado”, afirmou Gurgel.
Visando contornar essa situação, pois o mercado não suporta novos aumentos – apesar do preço dos insumos, frete, dólar -, algumas empresas cearenses têm atuado de forma conjunta para conseguir ofertas melhores no mercado de insumos. “Criamos a ‘Rede Multiquímica’ e ela reúne várias indústrias, pequenas e médias, para fazer um pool de compras, tentar minimizar os gastos e garantir preços mais vantajosos para o nosso setor. Muitas vezes os fornecedores, por serem empresas grandes, não dão importância às pequenas, mas quando nos juntamos conseguimos conter os custos, ganhar descontos e termos prazos de pagamentos melhores”, disse o empresário.
Ele destacou ainda que, atualmente, o grande projeto do Sindquímica-CE é o Polo Químico de Guaiúba, uma iniciativa do sindicato que conta com o apoio e a parceria da FIEC; do Governo do Ceará, por meio da Adece; da Prefeitura Municipal de Guaiúba e do Instituto Orbitar. O empreendimento abrigará 28 plantas industriais, com um investimento de cerca de R$ 150 milhões, devendo gerar dois mil empregos diretos e sete mil indiretos. A primeira indústria do polo, a Intraplast, já está em pleno funcionamento. E, até o final do ano, a previsão é que quatro outras já estejam em operação no local.
Grupo Alyne
E o empresário Paulo Gurgel ainda tem mais um motivo para comemorar. É que no último dia 17, o Grupo Alyne Cosméticos celebrou os seus 35 anos de mercado e segue em franco crescimento. Fundado como Cigel, recentemente assumiu o nome da sua principal marca, com um crescimento de 60% no último ano no Ceará. Atuando também em outros estados das regiões Norte e Nordeste, apresentou expansões expressivas nas demais praças: Pará (89%), Pernambuco (80%), Amazonas (50%) e Piauí (22%), de 2019 para 2020.
O crescimento se deve ao constante investimento em tecnologia, inovação, maquinário e na sua equipe. Adquiriu, recentemente, uma unidade produtora de pó descolorante, com um investimento de R$ 600 mil, capaz de produzir 5 milhões de unidades/ano. E contratou mais de 100 colaboradores nesse período de pandemia e, hoje, são cerca de 300 funcionários. “Na pandemia criamos o segundo e o terceiro turnos, pois víamos o desespero das pessoas nas gôndolas de supermercado em busca de álcool gel. Inclusive, num certo momento, paramos de produzir toda a nossa linha e fomos para cima do álcool gel, para suprir a necessidade. Temos máquinas que produzem 10 mil frascos por hora, então passamos a produzir 240 mil unidades de 100ml para atender à demanda”, lembrou Gurgel.
Atualmente, o Grupo Alyne conta com um mix de produtos com mais de 200 itens, inseridos nas marcas: Alyne, Aseplyne, Delicaderm, Repele Mais e Pure. Atuando no segmento de beleza e higiene pessoal, o seu portfólio envolve produtos como: linha capilar para uso pessoal e profissional, linha para cuidados com as mãos, álcool gel, sabonete íntimo, esfoliantes, gel antisséptico para higiene das mãos, sabonetes antibacterianos, repelente, bronzeador e linha corporal para clareamento de pelos.
A empresa mantém uma carteira com mais de 1.000 clientes ativos em todo Norte e Nordeste, com planos de expansão para todo Brasil. E expandiu o seu parque fabril em Caucaia para 17.000m² de área construída, onde dispõe de maquinários de última geração, além de uma unidade própria de fabricação de embalagens plásticas. “O ano de 2020 foi extraordinário, nosso faturamento extrapolou. E, hoje estamos lutando para chegar no mesmo nível, buscando apoio do governo para tentar fechar a conta, investindo em tecnologia, produtividade, treinamento”, completou Paulo Gurgel.