Fomo, Fobo e Jomo
Médica Ticiana Macedo fala sobre as síndromes que podem surgir com o uso excessivo dos aparelhos eletrônicos
Por Gabriela - Em 14/07/2022 às 2:41 PM
A internet e as redes sociais aumentaram a velocidade em que as informações são atualizadas e provocaram, consequentemente, uma necessidade de conexão e atualização permanente na humanidade. Segundo o Estudo Longitudinal da Saúde do Adulto (ELSA-Brasil), a pandemia aumentou em mais de 62% dos brasileiros o tempo de exposição contínua a telas. De acordo com Ticiana Macedo, médica psiquiatra e diretora do Nosso Lar Hospital, esse aumento pode acarretar implicações para a saúde mental, e alguns termos como Fomo, Fobo e Jomo surgiram para definir fenômenos comportamentais decorrentes dessa hiperconectividade.
Fomo
A Fomo, sigla advinda da expressão em inglês “fear of missing out” – traduzida para o português significa “medo de ficar de fora” – é caracterizada por sentimentos de ansiedade decorrentes da sensação de estar perdendo a vivência de experiências satisfatórias de outras pessoas.
“É aquela necessidade de estar por dentro de tudo que acontece, o medo e ansiedade vêm quando pensam estar perdendo algo importante. Essa síndrome faz com que sentimentos de inferioridade, inveja e o receio de estar sendo excluído de qualquer ocasião surjam”, explica a psiquiatra.
De acordo com a especialista, é fundamental prestar atenção em sinais que podem indicar Fomo, como a necessidade de checagem frenética das mídias sociais, o desejo de permanecer constantemente conectado e a intensificação do uso dos aplicativos de comunicação, na tentativa de aliviar o sofrimento causado por eles, caracterizando o início de um ciclo vicioso.
Fobo
Já a Fobo, sigla que vem da expressão “fear of a better option” – que significa medo de uma opção melhor – gera um sentimento de ansiedade pelo excesso de opções e informações disponibilizadas online, ocasionando o medo de escolher algo que não seja perfeito e a dificuldade de tomar decisões.
“Sempre parece existir uma oportunidade melhor. A pessoa vive em constantes questionamentos sobre o que poderia ter acontecido e o que pode acontecer, não se atenta ao presente e vive em atormentações de possibilidades. Perguntas como “e se?” e “mas talvez?” se tornam frequentes”, explica Ticiana Macedo.
O portador de Fobo também costuma cancelar compromissos no último minuto, por preferir outra opção e tem dificuldade de iniciar e finalizar planos.
Jomo
Diferente de Fomo e Fobo, o termo Jomo não representa uma síndrome, mas um estilo de vida em contraposição às síndromes citadas, pregando o prazer em não estar conectado a todo momento e a valorização da vida fora das telas. A prática está ligada às mudanças de hábitos com melhoria da produtividade, qualidade de vida, redução da procrastinação e desenvolvimento das relações sociais.
Segundo ela, por evitar a comparação típica das redes sociais e diminuir as chances do desenvolvimento de ansiedade e depressão, a prática traz benefícios para a saúde, em especial a mental. Para inserir a prática Jomo na rotina, algumas dicas como diminuir o tempo nos aplicativos, estabelecer metas diárias de tempo fora do celular ou computador e determinação de horários para desligar-se completamente do mundo virtual podem ser seguidas. A psiquiatra orienta inserir na rotina atividades sem telas que proporcionem prazer e evitar chegar notificações do celular em momentos de descontração.
Orientação profissional
Para Ticiana, dialogar sobre bem-estar e saúde emocional na era da conexão e imersão digital é extremamente necessário. A psiquiatra atenta, no entanto, para a importância de procurar ajuda e orientação profissional caso esses sinais e sintomas se tornem frequentes e comecem a atrapalhar a rotina.
“O estresse causado pela necessidade de estar participando de tudo ao mesmo tempo gerou consequências que afetam relações no geral”, comenta. A psiquiatra alerta que a falta de foco nas atividades, o não estar presente nas interações e a baixa produtividade foram os sintomas mais citados nos últimos tempos.
“É importante citar que as redes sociais têm um impacto negativo quando consumidas em excesso. Por isso, é ideal impor limites para o uso excessivo e que cause dependência”, finaliza