O universal pelo regional
Museu de Arte da UFC: seis décadas produzindo conhecimento através da arte
Por Gabriela - Em 21/01/2022 às 11:59 AM
O Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (MAUC) comemora, em 2021, 60 anos de existência. Com cinco salas permanentes (Aldemir Martins, Antônio Bandeira, Chico da Silva, Descartes Gadelha e Raimundo Cela) e um dos mais ricos e diversificados conjuntos museológicos do Brasil com, aproximadamente, 7 mil obras, o equipamento é um museu de arte por natureza, orgulho para todos os cearenses. Graciele Karine Siqueira, museóloga, mestre em Museologia e Patrimônio, especialista em Gestão Cultural e diretora do Mauc desde 2018, nos conta um pouco mais sobre aspectos importantes da história.
2021 marca os 60 anos do Mauc. Como manter a credibilidade e o alto grau de excelência?
Nesses 60 anos de existência, o Mauc se mantém fiel ao lema do seu criador “o universal pelo regional” e se renova constantemente pela revisão histórica de suas ações e atuações, assim como planeja o por vir por meio do alinhamento à sua atual missão que é produzir conhecimento através da arte, compartilhando experiências inspiradoras e envolventes de acolhimento, preservação, pesquisa e inovação para promoção do patrimônio cearense e da UFC. O Mauc sempre se destacou pelo trabalho ético e comprometido. Isso decorre pela maneira como estabelece sua relação com o campo conceitual e com as práticas preconizadas pela museologia. O Mauc é um museu universitário e de arte por natureza. Destaca-se, ainda, um corpo técnico, sempre pequeno, porém qualificado e capacitado com profissionais da área de patrimônio cultural.
O equipamento foi idealizado pelo Reitor Antônio Martins Filho. Em que contexto foi criado?
A criação do Mauc é bem anterior ao seu ato de inauguração. O Mauc começou a ser imaginado e sonhado em 1949, quando ainda o Antônio Martins Filho era tão somente o professor catedrático da Faculdade de Direito – Fadir e viajou à Europa com a Embaixada Clóvis Bevilácqua, formada por alunos e professores, para conhecer instituições educacionais e culturais. Nesta ocasião e na capital francesa foi ciceroneado pelo jovem artista plástico cearense, Antonio Bandeira, que foi convidado a integrar a Embaixada e levar o grupo para conhecer o Quartier Latin e os museus parisienses. Martins Filho fica encantado com o potencial e o poder dos museus na formação humana, educacional e cultural. Acredito que, neste momento, o Mauc começou a ser sonhado e imaginado dentro de um projeto educativo visionário do futuro fundador.
O Mauc tem como elemento primordial o equilíbrio, conseguindo ser, ao mesmo tempo, popular e erudito.
O Mauc foi pensado, idealizado, criado e inaugurado para ser este museu cujo acervo artístico sob sua guarda dialogasse com o lema do seu criador: “o universal pelo regional”, ou seja, caberia à esta instituição adquirir, conservar e expor em seu circuito tanto os trabalhos artísticos comercializados nas feiras populares de Juazeiro e Caruaru quanto os trabalhos expostos em exposições de outros estados e países. É um museu que preservou as obras de mestres da xilogravura e de quase todos os artistas integrantes da Sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP) e que foi possível adquirir na ocasião da sua criação. Além disso, preocupou-se, também, em preservar a produção das gerações posteriores à SCAP enquadradas no cenário “tradicional ou erudito”, assim como das gerações de artistas populares da Cultura Popular Brasileira, em especial, a proveniente da região do Cariri cearense.
O Mauc possui um dos mais ricos e diversificados conjuntos museológicos do Brasil. De que maneira esses trabalhos foram adquiridos?
Todo o acervo foi obtido por compra ou doação. Desde o projeto de criação até o início dos anos de 1980, existia uma verba no orçamento da UFC para aquisição de obras de arte para atualização do acervo. Com as mudanças governamentais e administrativas este recurso deixou de existir. Muitos artistas doaram obras para compor o conjunto conforme cartas e termos de doação disponíveis no arquivo institucional. A partir dos anos de 1990, porém, a única forma de ampliação do acervo adotado é a doação por parte dos artistas, familiares, pesquisadores e colecionadores ou através da transferência interna de patrimônio. Nesse ponto, quero destacar o papel fundamental do professor e pesquisador de cultura popular Gilmar de Carvalho (in memoriam) na ampliação do acervo de xilogravuras (matrizes e estampas), esculturas em barro cru, cerâmica e madeira a partir da doação do seu acervo particular oriundo das pesquisas e viagens realizadas pelo Cariri. O professor Gilmar de Carvalho não apenas foi doador, como intermediou a doação feita pelos professores e pesquisadores Renato Casimiro e Ismael Pordeus Júnior e pelo artista plástico Stênio Burgos.
Entre as obras de arte podemos destacar as coleções de Arte Popular e Artes Plásticas. Quais aspectos importantes dessas coleções?
Em 1965, o Mauc iniciou a organização técnica e a documentação museológica do seu acervo com a divisão da catalogação das obras em dois livros de registro: Artes Plásticas e Arte Popular. Para a década de 1960/70 fazia sentido este modelo de documentação e organização, no entanto, hoje compreendemos que a coleção é tão somente de arte. Neste conjunto museológico denominado Artes Plásticas estão registradas as coleções de arte sacra, pinturas (óleo, guache, acrílica, técnica mista, etc), desenhos, gravuras, esculturas e xilogravuras (matrizes e estampas). No conjunto Arte Popular estão as coleções de barro cru, cerâmica, madeira e cestaria. Segundo o professor Gilmar de Carvalho, a coleção de matrizes e estampas de xilogravura é a maior e mais importante numa instituição museal brasileira.
Quantos colaboradores e algum projeto de expansão em andamento?
O Mauc conta com onze funcionários públicos e três servidores terceirizados, além de um quadro volante de bolsistas, estagiários e voluntários durante o ano letivo da universidade. O museu elabora anualmente projetos acadêmicos junto às pró-reitorias e secretarias internas para solicitação de bolsas para contar com o apoio dos estudantes da universidade. Existe um projeto de expansão física do Mauc com o objetivo de ampliação vertical do museu com o objetivo de criação de novas salas para o circuito expositivo permanente e temporário; melhorias das áreas técnicas: arquivo e biblioteca; reinstalação do estúdio fotográfico; criação de salas adequadas para o atendimento aos pesquisadores e grupos de estudos; e a reformulação das áreas administrativas para as equipes de trabalho.