ENTRE PINCELADAS

O legado de amor e arte de Azhuli

Por Lorena Cabral - Em 01/06/2024 às 12:20 PM

Azhuli (2)

Azhuli

Azhuli, nome artístico de Luiza Maynara Diogo Veras, transformou o amor em arte e pintou com cores vivas as emoções humanas mais profundas. Nascida e criada em Fortaleza (CE), Azuhli encontrou nas paisagens e na luz equinocial da cidade a inspiração para as suas criações únicas.

Semente Do Amor, 2022 óleo E Acrílica Sobre Tela 158x113 Cm

Semente Do Amor, 2022 óleo E Acrílica Sobre Tela 158×113 Cm

Desde cedo, Azhuli demonstrou uma afinidade especial com a pintura. Ainda criança, visitava exposições ao lado da irmã, e foi nesses momentos que a semente de seu talento começou a germinar. Sua jornada artística ganhou novos horizontes em Buenos Aires, na Argentina, onde viveu por mais de um ano, aprimorando suas habilidades e explorando novas técnicas. Posteriormente, a artista teve um ateliê na cidade do Porto, em Portugal, e participou de uma residência artística no espaço Soma, na Cidade do México.

Foi no México, em 2022, que Azhuli se deparou com histórias de amores impossíveis entre pessoas LGBTQIA+, narrativas que a tocaram profundamente. Esse encontro inspirou a exposição “O amor é a coisa mais importante”, um marco em sua carreira que conquistou público e crítica. Essa exposição evidenciou a habilidade única de Azhuli de transformar dor e sofrimento em símbolos de resiliência e beleza, sempre com uma paleta cromática vibrante que capturava a essência de Fortaleza.

Azhuli acreditava que o amor era a força motriz de sua arte. Em suas próprias palavras: “Cada pincelada é um verso que queria ter escrito nessa hipotética declaração de amor.” Sua obra era uma carta de amor contínua, um tributo às pessoas e às histórias que encontrava em seu caminho. Esse compromisso com o amor e a empatia tornava sua arte profundamente humana e acessível.

Amor Intenso, 2022 óleo, Acrílica E Carvão Sobre Tela 206x139 Cm

Amor Intenso, 2022 óleo, Acrílica E Carvão Sobre Tela 206×139 Cm

Sua carreira foi marcada por diversas experiências enriquecedoras. Foi educadora no Museu de Arte da Unifor, em Fortaleza, e conservadora na Biblioteca Ciccillo Matarazzo. Também lecionou no curso de Artes Visuais da Escola Porto Iracema das Artes. Esses cargos ocupados por ela, não só fortaleceram sua própria prática artística, mas também influenciaram e inspiraram uma nova geração de artistas.

Azhuli deixou uma marca indelével nas paredes da Praia de Iracema e nos corações e mentes daqueles que tiveram o privilégio de conhecer sua obra. Seus quadros, repletos de energia e emoção, convidam os espectadores a um universo onde a troca de afeto é palpável e real. São pinturas que refletem não somente sua visão pessoal, mas também as histórias e emoções das pessoas que cruzaram seu caminho.

Depoimentos e legado

Henrique Viudez, artista e amigo, relembra Azhuli como uma figura intensa e genuína, alguém que realmente se interessava pelas histórias das pessoas. “Ela transformou isso quase que num mantra quando dizia: “O amor é a coisa mais importante”.

Leonardo Leal, curador de arte, enfatiza que Azuhli não apenas pintava, mas também “estava repleta de planos, buscando alterar a cena artística dos locais que ocupava, enquanto defendia suas convicções por meio de sua obra, dando voz com seus pincéis a toda uma geração.”

Azhuli E Andrea Dallolio

Azhuli E Andrea Dallolio

Omar de Albuquerque, curador da Mostra 100% DESIGN, observa como Azhuli elevou a estética de corpos fora dos padrões convencionais, amputados e marginalizados, à categoria de arte. Albuquerque reconhece a curta, mas impactante carreira de Azuhli, destacando a visceralidade de sua expressão artística.

Andrea Dall’Olio, artista e curadora, compartilha uma conexão pessoal profunda com Azhuli. “Ela expressava suas verdades e histórias de uma maneira única, algo que me cativou profundamente”, diz Andrea. Essa amizade se manifestou em colaborações artísticas e na curadoria da exposição “O monstro que nasce quando o amor acaba”, no Museu de Arte da UFC, que explorou a profundidade emocional das relações humanas.

Markus Avaloni, produtor da série “Um Artista”, do canal Arte 1, relembra a participação de Azhuli. “Tem uma parte no documentário que eu acho muito especial, que é ela falando da Luiza e da Azhuli. Ela tinha essas duas personas. Ela sempre foi muito carinhosa, dizia que era a Marília Mendonça das artes, pois falava do tema do amor. Pessoas têm medo de se expor, mas esse era o assunto dela e, por incrível que pareça, ficou algo raro as pessoas falarem sobre seus afetos nas artes plásticas. Sempre são temas, rótulos, grandes ideias ou pessoas até bancando heróis, e a Azuhli não. Ela era uma pequena heroína do cotidiano, sabe? Das pequenas coisas e dos amores dela.”

Legado de amor e arte

A memória de Azhuli continua viva em suas obras. Sua arte, marcada por cores ousadas e uma honestidade brutal, desafia padrões estéticos e celebra a diversidade do amor humano. Azhuli nos lembra que, mesmo em meio a tormentos e preconceitos, há sempre espaço para a beleza e o amor. Sua paixão pela arte e pela humanidade se reflete em cada pincelada, deixando um legado que inspira e encanta.
Azhuli partiu jovem, mas sua obra permanecerá como um testemunho de sua visão única e seu compromisso inabalável com o amor.

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