Olimpíadas
Paris, a cem dias dos Jogos, luta contra terrorismo e por promessa verde
Por E.V.B - Em 17/04/2024 às 7:30 PM
A quarta-feira (17) inicia a contagem regressiva de cem dias para os Jogos Olímpicos de Paris.
Diferentemente do que ocorre com frequência no megaevento, não há maiores preocupações com a conclusão das arenas esportivas, uma vez que quase todas já existiam. Mas a organização lida com duas questões na reta final da preparação: reagir de maneira apropriada ao momento geopolítico tenso e cumprir as promessas de sustentabilidade que foram o mote de Paris-2024 desde a fase de candidatura ao posto de cidade-sede.
O cenário global tem dois conflitos de grande repercussão.A guerra da Rússia contra a invadida Ucrânia e os bombardeios de Israel contra o território palestino após ataques do grupo terrorista Hamas. Paris, que tem histórico como alvo de ações terroristas, passou a avaliar se vale a pena ir adiante com seus planos para a abertura das competições.
A cerimônia, tradicionalmente realizada em estádios, foi planejada para o rio Sena, com atrações artísticas em embarcações em seu leito e desfiles de delegações às suas icônicas margens. Essa formatação apresenta enormes desafios do ponto de vista da segurança, o que inclui um sistema antidrones, e a execução da ideia ainda não foi confirmada.
“O que os terroristas querem é impedir a gente de sonhar, essa é a maior vitória deles. Sempre há um risco na vida, mas estamos usando todos os recursos possíveis. Planejamos com antecedência e estabelecemos um amplo perímetro de segurança”, disse o presidente Emmanuel Macron, insistindo que a festa será no Sena.
Ele admitiu, porém, que “há planos B e C” como alternativas. Uma delas é uma cerimônia restrita à área do Trocadéro, nas proximidades da Torre Eiffel. Outra é o modelo tradicional, com a celebração em um estádio, o Stade de France, em Saint-Denis, nos arredores da capital.
Se tudo correr bem na abertura, independentemente do palco, estarão em andamento aqueles que são vendidos como “os Jogos Olímpicos mais verdes de todos os tempos”. Não são, evidentemente, em uma história moderna que começou em 1896. Mas Paris procura – em um contexto no qual políticas ambientais são, além de necessárias, importantes do ponto de vista das relações públicas – posicionar-se como um bastião das novas práticas.
“O comitê organizador de Paris-2024 estabeleceu um novo modelo para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, comprometendo-se a entregar um evento ambicioso, espetacular e universal, mais responsável, mais sustentável, mais unido e mais inclusivo”, diz o documento “Nosso Plano de Legado e Sustentabilidade”.
Isso não significa que não haja pontos positivos em relação às edições olímpicas anteriores. Paris resistiu à sanha de construir arenas observada em Londres, no Rio e em Tóquio: 95% das praças esportivas já existiam ou são estruturas temporárias, como a do vôlei de praia em frente à Torre Eiffel.
A única construção de praça esportiva, porém, foi problemática. O Centro Aquático Olímpico estourou o orçamento inicial e foi concluído ao custo de 175 milhões de euros (R$ 963 milhões, na cotação atual). Pior, em um caricato erro de planejamento, o local foi concebido sem a capacidade mínima para as principais provas de natação e receberá apenas etapas classificatórias de nado artístico, saltos ornamentais e polo aquático.
Apesar da falha grotesca, a edição 2024 das Olimpíadas de fato construiu bem menos do que as precedentes, e essa é a grande diferença. Também houve mudanças que funcionam mais do ponto de vista simbólico do que em termos de resultados práticos relevantes, como pratos sem logotipo dos Jogos (que podem ser utilizados ao fim do evento), carpetes de segunda mão e colchões feitos com redes de pesca recicladas.
Uma dessas alterações em nome da sustentabilidade recebeu críticas, a decisão de não instalar aparelhos de ar-condicionado na Vila Olímpica. De acordo com a organização, os edifícios foram equipados com uma rede geotérmica, cuja energia produzida fornecerá refrigeração para as acomodações. Preocupadas com as previsões de temperaturas elevadas no verão europeu, delegações como a dos Estados Unidos não botaram fé no sistema e levarão aparelhos portáteis.