Questão Sanitária
Uso de vape e cigarros eletrônicos cresce entre jovens no Nordeste e preocupa profissionais de saúde
Por Julia Fernandes Fraga - Em 15/12/2025 às 12:17 AM

Jovens a partir dos 14 anos já relatam a prática. Foto: Freepik
“Trabalhadores fumantes apresentam maior probabilidade de faltar ao trabalho por motivo de doença quando comparados aos não fumantes” e “fumantes têm entre 30% e 33% mais risco de absenteísmo – ausência recorrente de um colaborador do trabalho –, acumulando cerca de três dias extras de ausência ao ano” são dados recentes revelados em pesquisas nacionais e internacionais como uma meta-análise em saúde ocupacional publicada no Scandinavian Journal of Work, Environment & Health.
A informação ganha relevância em um momento de mudança no perfil do tabagismo no Brasil. Após anos de redução contínua, análises do Ministério da Saúde sugerem sinais de alta no número de fumantes, especialmente entre públicos mais jovens. O movimento coincide com a popularização dos cigarros eletrônicos e vapes, o que acende um alerta entre pesquisadores e profissionais da área.
Venda proibida; consumo liberado
O médico pneumologista Ernando Sousa aponta que, apesar de proibidos pela Anvisa desde 2009, os cigarros eletrônicos são amplamente comercializados no Brasil, especialmente entre a juventude, impulsionados por marketing digital, sabores atrativos e associação com status social. O país, reconhecido como uma das principais referências mundiais no enfrentamento ao tabagismo, estruturou políticas robustas de prevenção ao longo das últimas décadas. A expansão dos dispositivos eletrônicos, no entanto, introduz novos desafios.

O médico Ernando Sousa atua há 11 anos no tratamento ao vício em cigarro. Foto: Reprodução/Instagram
Dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) e do Ministério da Saúde mostram que cerca de 8,7% dos adolescentes brasileiros entre 14 e 17 anos relataram uso de cigarros eletrônicos no último ano, prevalência superior à do cigarro convencional nessa faixa etária. Entre jovens adultos de 18 a 24 anos, o Vigitel 2023 apontou prevalência de uso atual em torno de 6,1%, indicando que o vape se consolidou como principal porta de entrada para a nicotina nessa geração.
E os efeitos já aparecem. De acordo com o especialista, vários estudos indicam que esses dispositivos estão associados a casos de dependência de nicotina, inflamação das vias aéreas, piora da asma, risco cardiovascular e danos pulmonares a médio e longo prazo.
Ceará na zona de risco
Diante desse panorama, a perspectiva do Nordeste preocupa. Um estudo com universitários da região, conduzido pela Universidade de Fortaleza (Unifor), destacou que 24% dos estudantes relataram uso de cigarro eletrônico, muitos de forma regular. Em outra parcela relevante, o vape foi o primeiro contato com produtos de nicotina e sem histórico prévio de tabagismo convencional (Revista Fisioterapia & Saúde Funcional – UFC, 2025).
O médico Ernando Sousa, que também é mestrando em Ciências Médicas, ressalta que “o achado indica uma ruptura no padrão histórico do controle do tabaco no país, com jovens iniciando o consumo de nicotina por meio de dispositivos eletrônicos”. Em contrapartida, ele argumenta que “o enfrentamento desse cenário passa pelo reconhecimento do cigarro eletrônico como um problema de saúde pública”.
Em sua visão, o debate precisa alcançar o ambiente escolar, onde muitas vezes ocorre o primeiro contato com esses produtos. “[…] [existe] a necessidade de conscientização desde idades precoces, capacitação de profissionais da educação e preparo dos profissionais de saúde para lidar com fumantes cada vez mais jovens, o que exige mudanças na linguagem, na abordagem e nas técnicas de persuasão”, defende.
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